Aos 15 anos de idade, Lydia* percebeu que estava grávida. Ela foi obrigada, pela lei jamaicana, a deixar a escola, em Kingston. Sem condição alguma para continuar estudando, Lydia passou a lutar para encontrar um caminho para ela e seu bebê.

Após ser acolhida no Centro de Mulheres da Jamaica, Lydia afirma que passou a cultivar algo que muitas pessoas acham que meninas grávidas não têm: ambição.

"Eu quero voltar para a escola. Sei que haverá desafios, é claro! Mas eu vou me sair bem e cuidar do meu bebê."

Na última quarta-feira, Lydia compartilhou sua história com os participantes da Convocatória Ecumênica Internacional pela Paz (CEIP), que dedicaram boa parte do dia a visitas a programas e iniciativas pela paz na região da capital jamaicana.

Além do Centro da Mulher, outros locais foram visitados, como o Whole Life Sports (WLS), uma iniciativa que prioriza o papel do esporte na formação ética e religiosa das crianças.

"O futebol é a vida em 90 minutos", explicou o treinador Sean Williams, que coordena o WLS. "Toda a tensão e a pressão da vida são vividas também numa partida de futebol. Além disso, a gente sempre tem a possibilidade de vencer ou aprender que uma derrota não é o fim de tudo."

Williams estima que cerca de 80% das crianças na Jamaica vivem sem o apoio de um pai ou não conhecem o seu pai. Para boa parte desta ‘geração sem pai’, disse ele, os treinadores se tornam uma figura paterna.

"Trabalho em equipe leva ao trabalho dos sonhos"
 

Apesar da WLS ser organização não-denominacional, ela tem um impacto na  comunidade cristã da Jamaica. "Vemos que nosso trabalho também é valioso para as igrejas. Muitas das igrejas locais enviam suas crianças e jovens para os nossos treinamentos e oferecemos nossas habilidades para formar sua liderança a fim de que multipliquem esta iniciativa também na vida cotidiana das igrejas."

Inspirado pelo lema "Trabalho em equipe leva ao trabalho dos sonhos", cerca de 50 crianças participam de atividades da organização.

Ainda assim, a maioria desta geração de órfãos tem ficado sem o apoio que uma família pode oferecer.

De volta ao Centro da Mulher, Lydia conta que passou por um “renascimento" na forma como vê a si mesma como estudante, mulher e mãe, explicou Zoe Simpson, diretora do Centro.

As meninas de idade entre 11 e 17 anos podem continuar o ensino médio no centro e, em seguida, voltar para a escola ou prestar os exames necessários para a graduação. Elas recebem muito mais do que apoio acadêmico. O centro oferece uma orientação mais abrangente, que inclui um plano contracepção para evitar que uma segunda gravidez aconteça tão cedo. "Não é que nós não queiramos que elas tenham outro bebê", disse Simpson. "Mas queremos que elas estejam mais preparadas antes de uma gravidez."

Na década de 1970, os filhos de mães adolescentes representavam 33% dos nascidos vivos da Jamaica. Hoje, o número é de 18%, em parte devido aos esforços do centro e outros programas que tentam desafiar as jovens a enfrentar as pressões da sociedade para se tornarem sexualmente ativas em idade tão precoce.

Entre os participantes do Centro da Mulher, a taxa de uma segunda gravidez de adolescentes é de menos de 2%.

As mães adolescentes são discriminadas
 
As adolescentes jamaicanas explicaram aos visitantes de dezenas de países como as pressões sócio-econômicas contribuem para a gravidez precoce e, ao mesmo tempo, de muitas maneiras, para o ostracismo de mulheres jovens.

Para uma adolescente grávida, embarcar num meio de transporte coletivo, muitas vezes, torna-se um momento de humilhação, disse Nicki, 16 anos. "No ônibus, quando tentei sentar no banco da frente, que é mais espaçoso, os outros  passageiros me disseram: ‘Você ainda é uma menina. Essas cadeiras são para gente grande.’”.

Este tipo de discriminação irrita Simpson, que aconselha as meninas a continuarem fazendo seus caminhos, mesmo que sejam bloqueadas na escola, no ônibus, nas ruas e, às vezes, até pelos pais de seus filhos.

"Os garotos conseguem permanecer na escola. O pai, muitas vezes, diz que o bebê não é dele.

Infelizmente, as comunidades das igrejas, em vez de apoiar as jovens que engravidam, frequentemente as isolam.

Quando dezenas de meninas foram perguntadas se suas igrejas tornaram sua gravidez precoce ainda mais difícil, todas levantaram as mãos.

"Há algumas poucas comunidades que têm apoiado as suas adolescentes que engravidam. A maioria, no entanto, segue isolando as jovens grávidas, baseadas numa suposta doutrina de que ninguém pode ter relações sexuais antes do casamento, disse Simpson.

"Eles hesitam em sair nas ruas. São mães solteiras numa sociedade onde as mães solteiras são mal vistas. Assim como você não pode permanecer na escola, muitas vezes também não pode permanecer na igreja".

Simpson disse que tenta orientar as jovens se concentrarem em sua espiritualidade individual. "Eu lhes digo que Deus está com elas para ajudá-las a se tornarem tudo o que quiserem."

Tanto o WLS como o Centro da Mulher são esforços visíveis na busca pela paz nas famílias e nas comunidades, e fortalecer o papel da igreja na cicatrização de feridas sociais e da sociedade.

*os nomes das mães adolescentes foram alterados

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