Por Friedrich Degenhardt (*)

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Com cartões nas cores azul e laranja nas mãos, os delegados à 9a Assembléia do CMI, que se reunirão em Porto Alegre, em fevereiro próximo, darão adeus às votações por maioria, no velho estilo parlamentar. O futuro do Conselho reside na tomada de decisões por consenso?

Como, de agora em diante, o CMI adota o método de tomar suas decisões por consenso, os 'cartões indicadores' são um dos meios a ser introduzidos durante a 9a Assembléia, na qual os delegados decidirão sobre os rumos e o foco da vida e do trabalho do CMI para os próximos oito anos.

O que isso significa para a capacidade de ação do CMI? Os que concordam com a novidade têm expectativa de uma renovação fundamental do diálogo dentro da comunhão das igrejas e na cultura de trabalho da organização. Os críticos receiam que as questões polêmicas sejam deixadas de lado para não pôr em risco o consenso.

"Pelo contrário", dizEden Grace, membro do Comitê Central do CMI e da Sociedade dos Amigos (Quakers) nos EUA. "Espero que mais questões polêmicas sejam ouvidas. Ninguém precisa mais se sentir preso por uma votação".

"O modelo do consenso está relacionado a um espírito de escuta aberta", diz Grace, cuja comunidade tem 300 anos de experiência com tal modelo. "Nós não simplesmente acumulamos mais mensagens a favor do que contra; trabalhamos no sentido de um pensamento comum, em busca do pensamento de Cristo". O consenso é mais do que apenas uma alteração de procedimentos; é também a construção de uma cultura em que todos têm lugar.

"O debate em estilo parlamentar cria uma atmosfera do tipo "a favor ou contra", em lugar de apoiar a escuta e a reflexão cooperativas", diz Anne Glynn-Mackoul, advogada Ortodoxa dos Estados Unidos e membro do Comitê Central em nome do Patriarcado Ortodoxo Grego de Antioquía e todo o Oriente, EUA. "No passado, houve um padrão de apresentação de documentos minoritários por parte dos Ortodoxos". Nesses documentos, os delegados formulavam visões alternativas que, segundo a perspectiva deles, não eram levadas em conta.

Eden Grace e Anne Glynn-Mackoul integraram a Comissão Especial sobre participação ortodoxa no CMI. Estabelecida pela 8a Assembléia do CMI em Harare (1998), tratava das preocupações Ortodoxas com os rumos e as prioridades do Conselho e, em 2002, fez uma série de propostas para possibilitar que a voz Ortodoxa fosse ouvida de forma mais efetiva.

Uma de nossas recomendações foi abandonar o sistema de decisões por maioria em favor de um modelo de consenso. Em fevereiro de 2005, o Comitê Central do CMI adotou essa sugestão por unanimidade.

O modelo de consenso dá poder de veto a cada delegado individual na Assembléia do CMI? "Não", diz Eden Grace, "todos têm direito a ser escutados, mas não há direito a obstrucionismo". Uma maioria de 85 por cento de delegados ainda terá poder de convocar uma votação formal, como último recurso. As votações que coloquem em questão a compreensão de uma igreja-membro acerca de si própria não são possíveis.

O consenso não se restringe à unanimidade. Uma opinião minoritária pode ser rejeitada, desde que o ponto de vista tenha sido ouvido integralmente. Nesse caso, ela terá a possibilidade de ficar de fora de qualquer ação ou programa que resulte dessa decisão. Essa é uma forma de adaptar as regras à realidade. Mesmo hoje, há programas no CMI em que algumas igrejas não estão envolvidas.

<span style="font-weight: bold; "» O consenso demanda formação e uma mudança de atitude

"Todos precisaremos de um pouco de formação", diz o Rev. Dr D'Arcy Wood, ex-presidente da Igreja Unida na Austrália, na qual o modelo de consenso foi introduzido dez anos atrás. Isso não é como um interruptor de luz, que só precisa ser ligado", diz ele. "Exige uma mudança em nossas expectativas e abordagem à tomada de decisão".

Um manual de procedimentos sobre o consenso irá ajudar os delegados à Assembléia a se acostumar a conduta e métodos novos. Mais do que isso, haverá sessões de formação para moderadores dos comitês, bem como relatores para a Assembléia.

O novo processo de tomada de decisões por consenso será, antes de tudo, um desafio aos moderadores, tanto em termos de uma preparação cuidadosa de cada reunião, 'limpando' a agenda e se certificando de que as diferentes vozes sejam ouvidas.

E o que acontecerá se um comitê da Assembléia ou uma plenária de decisão chegar a um impasse? As novas regras oferecem uma série de procedimentos possíveis para essas situações: a questão em disputa pode ser suspensa ou remetida a um grupo de trabalho menor; a reunião pode fazer uma pausa para respirar, observando um momento de silêncio e oração; os diferentes pontos de vista poderiam ser registrados; ou ainda, os delegados poderiam registrar que não foi possível chegar a um consenso de opinião naquele momento.

<span style="font-weight: bold; "» Um colorido espetáculo de mãos

A inovação mais visível para os delegados à Assembléia serão os chamados 'cartões indicadores'. O manual do consenso declara: ao sentir, após ouvir um orador, "simpatia em relação a uma idéia e aceitação dela", os delegados poderão sinalizar sua posição ao moderador com um cartão laranja. Um cartão azul mostra "frieza e desaprovação". Ambos os cartões cruzados à frente do peito enquanto um orador ainda está ao microfone indicam ao moderador que os delegados não consideram útil prolongar o debate.

Uma primeira avaliação da tomada de decisões por consenso no CMI só será possível depois da Assembléia. Contudo, a experiência australiana faz com que D'Arcy Wood esteja confiante de que o consenso será um sucesso: "nosso modelo flui mais livremente e é mais flexível. Mais pessoas são incluídas na 'formulação' das decisões. Isso leva a níveis muito mais altos de satisfação e a uma maior apropriação das decisões. Mais pessoas se envolveram ativamente na implementação".

Isso é exatamente o que o CMI quer atingir no processo de tomada de decisões na Assembléia em Porto Alegre e depois dela. A diversidade de contribuições não irá, espera-se, separar as igrejas, e sim enriquecer a comunhão e a vida de cada igreja.

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(*) Friedrich Degenhardt , teólogo e jornalista, é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Norte do Elba (Alemanha). No momento, faz parte da equipe de comunicação do Conselho Mundial de Igrejas em Genebra.

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9a Assembléia do CMI: Orando por um mundo transformado

A 9a assembléia do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) acontecerá em Porto Alegre, no Brasil, de 14 a 23 de fevereiro de 2006. Seu tema é uma oração: "Deus, em tua graça, transforma o mundo".

Sendo a primeira Assembléia do Conselho no século XXI, o evento reunirá até 3.000 líderes de igrejas e representantes ecumênicos de quase todas as tradições cristãs do mundo. Como tal, será um dos mais amplos encontros globais desse tipo.

As assembléias são, muitas vezes, momentos decisivos na vida do Conselho Mundial, e se espera que também esta deixe sua marca na história ecumênica. As deliberações se concentrarão em questões como o futuro do movimento ecumênico, o compromisso das igrejas com a justiça econômica, bem como seu testemunho para superar a violência, e os desafios enfrentados no meio da pluralidade religiosa.

Em Porto Alegre, membros da família ecumênica terão a oportunidade de se reunir em torno da Assembléia em um mutirão. Composta de oficinas, exposições e celebrações culturais, essa parte da programação oferecerá oportunidades para que membros do movimento ecumênico mais amplo se reúnam, reflitam e celebrem juntos.

Esta é a primeira assembléia do CMI a ser realizada na América Latina. Ela está sendo promovida pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs no Brasil (CONIC), em nome de igrejas de toda a região. De 11 a 13 de fevereiro, serão realizados eventos preparatórios à assembléia para jovens e mulheres.

Website da Assembléia:www.wcc-assembly.info

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