Por Jonathan Frerichs (*)

Pergunte a qualquer pessoa se ela consegue imaginar um mundo sem armas nucleares e, de acordo com o que as pesquisas indicam, a maioria dirá que consegue. Isto acontece mesmo em países que possuem armas nucleares, de acordo com a Campanha Internacional para Abolição de Armas Nucleares (CIAAN), uma iniciativa nova da sociedade civil dedicada à esperança por um mundo livre de armas nucleares.

No entanto, os governos que possuem armas nucleares tem uma posição diferente. Suas políticas e gastos nos dão a impressão de que "bem... talvez um dia... mas certamente não enquanto estivermos vivos".

Mesmo assim, uma coalizão de cerca de 2.000 organizações que querem abolir as armas nucleares se reuniu em Genebra, em 16 de setembro. No programa, um painel de representantes da sociedade civil, organizado pelo Conselho Mundial de Igrejas (CMI), para examinar as perspectivas reais para o desarmamento nuclear.

Depois de anos de pouco progresso, o apoio à abolição das armas nucleares está crescendo. Nas Nações Unidas, 133 países se declaram, atualmente, em favor de uma Convenção de Armas Nucleares, relatou Alyn Ware, um neozelandês que mobiliza parlamentares de vários países em torno desta questão.

"O sucesso com outros tratados de armas e o absurdo de manter arsenais nucleares num mundo cada vez mais interligado e interdependente, ajudam a explicar esta tendência", disse Ware. Uma convenção que proíbe as armas nucleares é o principal objetivo da CIAAN.

Direito Internacional Humanitário para questionar armas nucleares

Está sendo dada atenção cada vez maior à ilegalidade das armas nucleares. "Existe o Tribunal Penal Internacional", afirmou Tim Wright, da CIAAN da Austrália, ao público presente no Centro Ecumênico, em Genebra. "Precisamos lembrar aos nossos líderes que, se fossem usar uma arma nuclear, eles iriam se encontrar lá."

Wright pediu que grupos da sociedade civil questionem a existência das armas nucleares com base no direito internacional humanitário, boicotem empresas envolvidas na produção de armamento nuclear questionem diretamente os Estados detentores de armas nucleares, porque sob eles já pesam obrigações legais para implementarem o desarmamento nuclear, mas, em vez disso, estão modernizando cada vez mais seus arsenais.

"Menos armas, mas mais modernas" é como descreve a situação do armemento nuclear no mundo atual a painelista Jackie Cabasso, da organização norte-americana Western States Legal Foundation. Nos EUA, recentemente mais de 200 bilhões de dólares foram destinados a atualizar e expandir o complexo nuclear do país. Os fundos foram negociados de forma que pudessem dar sustentação bipartidária ao tratado START, do ano passado, entre os EUA e a Rússia. “Aquela barganha tornou um tratado modesto de redução de armas numa medida anti-desarmamento custosa”, disse ela.

A painelista Alice Slater, da fundação pacifista Nuclear Age, falou sobre os custos e conseqüências da energia nuclear. O tsunami, o terremoto e o desastre nuclear, em Fukushima, Japão, este ano, nos chamou atenção para o fato de que há 500 reatores nucleares em 30 países e de que mais 60 estão em construção. Cada um desses reatores nucleares é uma "fábrica de bombas", disse Slater.

Ela elogiou as recentes decisões dos governos da Alemanha, Suíça, Itália e Espanha de desistir de suas usinas de energia nuclear. Slater observou que seriam necessários 3,8 milhões de moinhos de vento para satisfazer metade das necessidades energéticas do mundo. "Dado o fato de que 7.300.000 de carros são fabricados a cada ano, seria viável construir o mesmo número de moinhos de vento", disse ela.

Prefeitos de 100 cidades do Japão estão, agora, defendendo que o nordeste da Ásia se torne uma Zona Livre de Armas Nucleares (ZLAN), disse Akira Kawasaki Barco da Paz, de uma organização não-governamental japonesa. "As ZLAN são um modelo de segurança que é livre de armas nucleares", disse ele, “especialmente para regiões como o nordeste da Ásia e do Oriente Médio, onde há insegurança crônica”. Seis outras regiões do mundo já estão protegidas por este tipo de zonas.

Regina Habel, uma cientista alemã, disse que os mísseis estão se proliferando pelos mesmos motivos que as armas nucleares. Uma razão comum que os países usam para ambos é, "As minhas armas são boas. As de vocês é que são ruins", disse Habel. Se um país aumenta o alcance, a capacidade de manobra ou a potência de suas armas, os seus adversários podem também tentar fazer o mesmo.

Além disso, no caso dos mísseis e armas nucleares, os EUA, maior poder militar mundial, é o carro-chefe. Ainda não existe um tratado abrangente de controle de mísseis, Habel observou. Habel representa uma associação internacional de engenheiros e cientistas em oposição às armas nucleares.

O CMI defende a completa eliminação das armas nucleares e persegue passos concretos em direção a esse objetivo com igrejas-membro em seis continentes.

(*) Jonathan Frerichs, é o coordenador do programa do CMI para a construção da paz e pelo desarmamento. Ele é membro da Igreja Evangélica Luterana na América (ELCA).