Por Marcelo Schneider (*)

Com a Iniciativa Ecumênica do CMI no combate ao HIV e AIDS na África (EHAIA, sigla em inglês), a Revda. Josefina Ilda Cussinja Sandemba tem estado envolvida no desenvolvimento de respostas à pandemia do HIV e à violência sexual e de gênero em Angola. 

Sandemba, pastora ordenada da Igreja Evangélica Congregacional de Angola, lidera uma comunidade com 1500 membros na cidade de Viana. Ela já trabalhou como responsável do programa de mulheres no Conselho de Igrejas de Angola (CICA) e, atualmente, atua junto à região lusófona do programa EHAIA, em Luanda, Angola.

Na entrevista a seguir, Sandemba partilha suas reflexões sobre como as igrejas estão respondendo às questões ligadas à pandemia de HIV em Angola e na região. 

Como a pandemia de HIV tem afetado as comunidades na sua região?

Nas situações que temos testemunhado, há dois aspcetos relacionados à dissiminação de infecções do HIV que tornam as comunidades vulneráveis.

O primeiro aspecto está ligado ao sistema de saúde. Nossas maternidades estão sempre lotadas de mulheres que estão lidando com abortos espontâneos (principalmente como consequencia de violência doméstica), ferimentos causados por violência sexual ou cirurgias em mães muito jovens.

Há poucos hospitais com profissionais trabalhando e equipamentos adequados. A maioria é de pequenos centros de saúde com infraestrutura pobre e qualificação médica baixa. Esta situação é generalizada nas áreas rurais. Por isso, é comum acontecer infecções entre pacientes internados.

Outro aspecto que eu gostaria de destacar é comportamental. Nas comunidades locais, as meninas começam sua atividade sexual prematuramente. Os pais, por sua vez, tem pouquissimos recursos para enviar suas filhas à escola e até mesmo educá-las. Nesta situação, a comunicação entre os pais e as jovens é bastante limitada. Em alguns casos, homens mais velhos usam meninas para atividades sexuais em troca de algum dinheiro. Estes fatores agragem-se a outras ameaças do HIV.

Quem você acha que é mais vulnerável ao HIV?

Os mais vulneráveis à infecções de HIV são mulheres e jovens. Em muitos casos, as meninas são abusadas por homens mais velhos infectados que, por sua vez, frequentemente, são casados e tem outras parceiras.

Como você avalia as respostas das igrejas à pandemia de HIV em Angola?

As igrejas tem a voz mais audível nas nossas comunidades. No entanto, às vezes, o hiato que ainda existe entre a cultura das mulheres e o que é pregado nas igrejas ainda persiste. Quando as igrejas não leam em consideração as vozes das mulheres, no que tange o aconselhamento sobre sexo seguro no casamento, o resultado é o aumento da ameaça do HIV e da AIDS. Também é importante que as igrejas apoiem o teste de HIV entre jovens antes que eles se casem.

Fale-nos um pouco mais sobre o seu envolvimento com o programa EHAIA.

Trabalho no EHAIA organizando o treinamento direcionado a mulheres que, frequentemente, testemunham casos de violência sexual e de gênero. Está claro para nós que o aspecto-chave na luta contra a pandemia de HIV é a sua relação com a violência sexual e de gênero.

A metodologia de estudos bíblicos contextuais promovida pelo EHAIA é muito adequada para ajudar mulheres e pastores/as a se tornarem mais abertas para falar de seus problemas, buscando superar os traumas. No EHAIA, usamos o Manual de Estudos Bíblicos sobre Violência de Gênero com as comunidades. O papel do EHAIA é influenciar a visão dos líderes acerca de como lidam com a pandemia de HIV. Ecorajamo-lhes a falar abertamente sobre sexo e sexualidade, e seus impactos na saúde das pessoas.

Se as igrejas querem desempenhar um papel construtivo nesta situação, precisam treinar os/as pastores/as e líderes de igreja na área do aconselhamento, focando em temas como a superação do trauma, por exemplo, e promover o diálogo entre áreas que atuam no combate ao vírus e no auxílio às vítimas, como conselheiros, médicos, psicólogos, advogados e outros especialistas desta área.

Trabalhamos juntos com outros membros da equipe do EHAIA na região africana do Sub-Saara e em Genebra, na sede do CMI. Também colaboramos com assciações de pessoas que vivem com HIV, instituições teológicas e os conselhos sub-regionais de igrejas no Sul da África.

[670 palavras]

(*) Dr Marcelo Schneider trabalha como correspondente de comunicação do CMI para América Latina e vive em Porto Alegre, Brasil.

Leia também:

Reducing the threat of HIV remains a challenge (WCC feature article of 4 July 2012)

Addressing the HIV pandemic in South Sudan (WCC feature article of 1 June 2012)

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