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Nyambura Njoroge durante o fórum promovido pelo departamento de comunicação do CMI, em Genebra. © WCC/Marianne Ejdersten

Nyambura Njoroge durante o fórum promovido pelo departamento de comunicação do CMI, em Genebra. © WCC/Marianne Ejdersten

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Os ataques da semana passada ao jornal francês Charlie Hebdo, somados aos ataques contra a polícia e aos civis numa mercearia judaica daquela cidade, desencadearam vigorosas reflexões sobre a liberdade de expressão, os valores religiosos e o papel das igrejas durante um fórum promovido pelo departamento de comunicação do Conselho Mundial de Igrejas (CMI).

O fórum foi realizado no dia 12 de Janeiro, no Centro Ecumênico, em Genebra, Suíça. Entre os oradores estavam membros da equipe do CMI, incluindo Theodore Gill, Georges Lemopoulos, Rev. Dr. Nyambura Njoroge, Michel Nseir, Peter Prove, Rev. Dr. Peniel Rajkumar e Rev. Dr. Hielke Wolters.

Os participantes condenaram unanimemente a violência, mas também evidenciaram uma diversidade de opiniões sobre a liberdade de expressão em casos em que esta acabou inflamando as tensões inter-religiosas, demonizando ou estereotipando tradições religiosas ou mesmo levando ao medo em relação ao outro.

Dois participantes discutiram o papel do CMI na construção do legado do discurso sobre direitos humanos, incluindo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, ao mesmo tempo em que reconheceram a história muitas vezes difusa do cristianismo em relação à violência.

Alguns participantes ressaltaram o padrão dúbio de alguns países na aplicação da liberdade de expressão, do uso indevido de leis que protegem contra "blasfêmia" e do papel das igrejas na luta contra os estereótipos de minorias religiosas ou étnicas. "A liberdade de expressão pode muitas vezes reforçar hegemonias do Iluminismo", disse Peniel Rajkumar, coordenador do programa do CMI sobre diálogo  inter-religioso da cooperação.

Já o coordenador do programa de Saúde e Cura, Nyambura Njoroge, apontou para a enorme atenção dada pela mídia e pelo público aos ataques em Paris em contraste com a pouca atenção dada a ataques mortais e atrocidades maiores cometidas pelo Boko Haram na Nigéria.

"Claro que é fácil apoiar a liberdade de expressão quando você concorda com o que sai dos alto-falantes ou quando você não se sente muito ofendido", afirmou Theodore Gill, editor sênior do departamento de publicações do CMI. Mas ele observou que isto é muito mais difícil quando se encontra material desagradável, ofensivo ou prejudicial.

Os oradores discordaram sobre como e se a mídia deve policiar a si mesma para evitar estereótipos e provocar violência.

Embora vários oradores tenham afirmado que duvidar e questionar até mesmo os espaços sagrados da religião são atitudes necessárias numa democracia e são parte do direito à liberdade de expressão, também concordaram que não se pode justificar o incentivo à xenofobia, ao anti-semitismo e à islamofobia em nome da proteção dos valores democráticos ocidentais.

Também foram discutidos o lugar especial da religião e do secularismo na sociedade francesa e na Europa.

Os ataques em Paris tomaram a vida de 20 pessoas e foram condenados pelo CMI. O secretário-geral interino, Georges Lemopoulos, disse: "O Conselho Mundial de Igrejas rejeita veementemente e condena qualquer justificação religiosa deste atos. Ao lado de todas as pessoas de fé e de boa vontade, oramos pelas vítimas e suas famílias, para que os autores sejam levados à justiça, para que a ideologia extremista que inspirou este ataque seja extinta e que a indignação justificada não leve a represálias contra muçulmanos ou gere mais combustível a sentimentos anti-islâmicos".

Igrejas-membro do CMI na França