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Olav Fykse Tveit participa de um grupo de estudo bíblico na Igreja Presbiteriana Unida de Brasilia. © WCC/Marcelo Schneider

Olav Fykse Tveit participa de um grupo de estudo bíblico na Igreja Presbiteriana Unida de Brasilia. © WCC/Marcelo Schneider

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O Rev. Dr.  Olav Fykse Tveit, Secretário Geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), fala sobre a violência em nome da religião, direitos humanos e as lutas por justiça climática no Brasil, em entrevista a Marcelo Schneider, do departamento de comunicação do CMI. Tveit esteve em Brasilia entre os dias 1 e 3 de setembro, liderando a delegação do CMI que cruza o continente em "peregrinação de justiça e de paz."

A intolerância religiosa é um tema bastante importante para as igrejas brasileiras. Como entender que a violência contra minorias étnicas e religiosas seja praticada em nome de Jesus Cristo?

As notícias sobre violência contra as minorias religiosas, étnicas e sociais perpetrada por alguns grupos cristãos no Brasil me preocupa profundamente. Também me zanga ver como a identidade cristã é usada para perpetrar a violência. Nós temos que dizer juntos como cristãos: "Não em nome de nosso Senhor Jesus Cristo! Não em nosso nome como igrejas!"
A violência com motivação religiosa é uma questão importante para as igrejas. No CMI, discutimos como o tema da violência em nome da religião pode ser abordada adequadamente. Este assunto também será discutido na próxima reunião do nosso Comitê Central, em junho de 2016, na Noruega.

Qual é a sua opinião sobre a relação entre maiorias e minorias no Brasil?
Uma sociedade que cuida de suas minorias (incluindo grupos religiosos ou étnicos) é uma sociedade que é boa para todos. Uma sociedade que não é capaz de garantir direitos políticos, econômicos e sociais a minorias não é uma sociedade boa nem para a maioria.

Uma sociedade com grandes lacunas sociais e econômicas, cria uma série de problemas para as pessoas. Pode ser de grande valia se os grupos majoritários encontrarem maneiras de abordar adequadas para abordar questões de liberdade religiosa, por exemplo.

Todos devem ver o benefício de ter estruturas, leis e condições que garantam a igualdade de direitos. Por isso, é importante que as igrejas lutem juntas pelos direitos de outros grupos religiosos. É parte de nosso compromisso cristão cuidar do outro, e não apenas cuidar de nossa própria igreja.


Quais foram os temas mais marcantes de suas conversas com as lideranças de igrejas no Brasil?
Ouvi muito sobre como os povos indígenas, os afrodescendentes, os imigrantes e outras comunidades estão muito vulneráveis. No Brasil, estas são questões difíceis para toda a sociedade. Por isso, estou feliz em ver como o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) e seus parceiros estão trabalhando, apoiando e capacitando estas comunidades como parte de sua missão cristã.

Que papel o Brasil pode desempenhar na garantia de justiça climática e direitos humanos?
O Brasil, devido a sua natureza e tamanho, detém uma parte enorme das florestas tropicais do mundo. Este país desempenha, de diversas formas, um papel significativo nos esforços por redução de emissão de gases que provocam o efeito estufa. Tenho convicção que o Brasil será um ator-chave na Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (COP 21), em Paris, no final do ano.
O Brasil também está empenhado em desempenhar um papel forte na área de direitos humanos, no tratamento de questões relacionadas ao seu próprio passado, como a impunidade e a implementação de um processo de reconciliação.
O Brasil tem muitos recursos naturais, políticos, humanos e espirituais. É um país com tantos dons! É inspirador ver que o país tem encontrado uma nova forma de partilhar tais dons com a comunidade global. Por isso, é tão importante que este empenho não se perca em meio aos delicados desafios políticos atuais.

Quais são as suas impressões sobre missão, especialmente no contexto brasileiro?
As igrejas brasileiras estão muito comprometidas com a missão. Ao longo dos encontros que tive aqui, observei que existe, entre as igrejas, um entendimento comum acerca da missão no que tange o entendimento de uma "missão holística" e o "ministério diaconal da Igreja", particularmente dirigido aqueles que estão à margem da sociedade.
Tive a oportunidade de partilhar aqui a nova declaração de missão do CMI, intitulada "Juntos pela vida", e pude falar sobre os principais aspectos da visão deste documento, os ela, de que não vemos a missão sendo feita apenas a partir do centro, mas também - e principalmente - a partir das margens da sociedade. O Brasil é um país onde muitas igrejas fazem missão em nível local de um jeito que ilustra bem a expressão "missão a partir das margens". Vejo que as igrejas no Brasil estão cientes de que uma parte importante do seu chamado a seguir a Cristo está relacionada com a ajuda a aqueles que mais precisam de justiça e paz.

Como são igrejas no Brasil responderam ao chamado para a "peregrinação da justiça e da paz"?
Sinto-me encorajado ao ver que o chamado para participar da "peregrinação da justiça e da paz" do CMI, como um caminho comum de fé para enfrentar as injustiças e conflitos no Brasil, faz sentido para as igrejas daqui. Este é o momento de estarmos unidos como igrejas e estarmos abertos para novas parcerias pela justiça e a paz.
O chamado às igrejas e pessoas de boa vontade para que se juntem à "peregrinação de justiça e de paz" foi emitido pela X Assembleia do CMI, realizada em Busan, República da Coreia, de 2013.

A peregrinação de Justiça e Paz

Declaração sobre missão: "Juntos pela vida"

As igrejas-membro do CMI no Brasil