Marcelo Schneider*

Ela é membro do Grupo Consultivo do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) para diálogo com os pentecostais e de ECHOS (a comissão do CMI para jovens). A Rev. Jennifer Leath, da Igreja Metodista Episcopal Africana nos Estados Unidos, identifica-se como “uma afro-americana que vive em solidariedade com os africanos da diáspora africana e os oprimidos. São estas pessoas que capturaram meu coração”, acrescentou. A Rev. Leath foi uma das oradoras durante a plenária sobre o “Cenário Eclesiológico” atual, durante a reunião do Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), que acontece de 16 a 22 de fevereiro, em Genebra, Suíça.

Ao longo do terceiro dia do evento, Jennifer respondeu algumas perguntas sobre o papel dos jovens no CMI e foi encorajada a partilhar mais sobre sua visão de igreja.

Como você avalia o fato de que a maioria dos membros idosos do atual Comitê Central entrou no movimento ecumênico através de organizações e movimentos de jovens cristãos?

Bem, todos os idosos na plenária hoje foram jovens um dia e se envolveram no movimento ecumênico na fase de formação do mesmo. Muitas destas pessoas vieram de organizações que foram originalmente planejadas exclusivamente para jovens. Mas hoje o cenário mudou. Tais organizações não têm o mesmo impacto que outrora tiveram. Isto significa que os jovens hoje não têm a mesma formação e possibilidades. Entretanto, também acho que esta é uma questão sistêmica também. Não é um problema que existe só no CMI. Trata-se da forma como funciona a sociedade hoje em dia. É uma questão de poder.

Mas o CMI não é, de muitas formas, um reflexo do que está acontecendo nas igrejas?

A questão é que todas as instituições com quem trabalhamos (...) suas estruturas envelheceram, e, à medida que envelheciam, não estabeleceram mecanismos que assegurassem que sua membresia fosse rejuvenescida.

Há um hiato de gerações no movimento ecumênico?

Acho que definitivamente há. Mas acho que também há uma dança sutil acontecendo, pois, de um lado, é muito importante para uma comunhão de igrejas como o CMI ter o máximo de autoridade possível em sua voz – a autoridade reconhecida por nossas igrejas institucionais e em nossas regiões e países é a dos líderes de nossas denominações, e esta liderança é, frequentemente, idosa. E, também, para serem respeitados junto aos governos de nossos países, que não dão a mesma atenção à voz da juventude da mesma forma como dão à voz dos lideres destas instituições. (...) Então, há esta dança sutil entre ser bem visível nas estruturas da sociedade em que participamos e, ao mesmo tempo, manter uma voz profética e jovem. Não que a voz profética e a jovem sejam sempre as mesmas, mas às vezes são.

Qual é a melhor forma dos jovens de hoje contribuírem para uma mudança no CMI?

Acho que temos que insistir em ser tanto parte da comunhão viva como parte das estruturas governamentais, e isso significa que precisamos ser treinados e saber como o CMI é governado. E a correção que temos que fazer, e que nossos antecessores não fizeram, é que devemos projetar a estrutura de forma que asseguremos que, à medida que envelhecemos, outros podem vir depois de nós, porque não queremos este problema de novamente.

Qual é o papel da Igreja de Jesus Cristo no mundo de hoje?

Sonho com uma Igreja, a ekklesia, na qual todas as pessoas são cuidadas e honradas pelas particularidades que trazem e dispostos a perceber que estas particularidades formam a Igreja Universal. Tornamos-nos universais somente através de nossas particularidades e através da integridade delas. Esta é minha resposta teórica. Mas, na verdade, a resposta teórica é insuficiente, porque a igreja com qual sonho é a igreja onde ninguém está livre enquanto todos não estão livres, é a igreja onde fazemos justiça, amamos, expressamos bondade e caminhamos humildes com nosso Deus. Isto significa que não descansamos, não dormimos, não paramos e continuamos lutando. Nossa missão é que cada pessoa seja capaz de viver de forma igual os benefícios deste mundo que Deus nos deu. Não podemos cair em ideias de meritocracia e não podemos agir como se já tivéssemos alcançado nosso objetivo. Temos que estar cientes, de forma auto-reflexiva, que ainda não chegamos lá e que até o eschaton não chegaremos. O Reino de Deus na Terra é quando encontramos formas de empoderar uns aos outros mesmo quando isso significa “desempoderar” a nós mesmos ou dividir o poder com outros.

* Marcelo Schneider é doutor em teologia, mora em Porto Alegre, Brasil, e trabalha como assessor do moderador do Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas desde 2006, colaborando frequentemente com agências de comunicação eclesiásticas e ecumênicas.

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